Juliana Sôlha, mantenedora deste blog, sobrinha e afilhada da restauradora Lucy Enyd compartilha com você o que aconteceu no dia 12 de março de 2006.
Era uma segunda-feira quente e agitada. Parece que neste dia da semana todo mundo resolve sair de casa.
Juliana havia combinado com as tias, primas e irmãs um café no fim da tarde na casa do pai.
Era surpresa para quem andava triste e saudoso. E um cafezinho em família , cheio de conversas carinhosas e recodações poderia reverter os sentimentos do senhor Luiz de Gonzaga.
Na família, cinco irmãs, contando com Lucy, a mais velha, concordaram em chegar no mesmo horário, 18h e 30min, para que a surpresa fosse ainda mais impactante.
Mais cedo, por volta das duas da tarde, Juliana liga para a tia Lucy para combinar horário de buscá-las.
Mas Lucy observou que tinha compromisso e levaria exames de rotina ao médico e avisou que estaria em casa por volta das cinco e meia. Independente como sempre, Lucy Enyd iria sozinha.
"No caminho da casa do papai, irmão mais velho das minhas tias que tanto aguardava a todos nós, recebo o telefonema mais triste da minha vida", diz Juliana Sôlha.
Ainda meio sem saber exatamente o que havia acontecido Juliana foi buscar o pai para que ambos pudessem ir ao hospital para onde Lucy havia sido levada.
Chegando no Hospital Arapiara, à Avenida do Contorno, bairro Sta Efigênia, em Belo Horizonte, nossa restauradora estava lúcida e ainda podia conversar com as pessoas.
Juliana, que é da área de investigações, começou a anotar os primeiros depoimentos. Era preciso esfriar o café e a cabeça, engolir seco o pão e não perder de vista os fatos.
Lucy estava com olhos muito inchados, sentia muitas dores em todo corpo, principalmente nas pernas e no rosto.
Depois do violento assalto, quando o bandido arrastou Lucy para arrancar-lhe uma simples sacola, a artista que tanto fez para restaurar imagens sacras, teve o nariz e maxilar fraturados, a cabeça cheia de hematomas, muitos cortes pelo corpo, pernas e braços repletos de escoriações e os dois joelhos fraturados.
A mulher de 80 anos, que saiu de casa para ir ao médico levar resultados dos seus exames, agora estava na cama de um hospital com um quadro que mais parecia um filme de terror. E um futuro incerto.
Se a intenção do lanche da tarde era alegrar o único irmão da família de Lucy, um bandido tratou de fraturar irrestauravelmente os sonhos da família de uma das maiores artistas de Minas Gerais.
Agora era o doutor Luiz que precisava esquecer a trizteza para fazer algo pela irmã.
No relato à sobrinha investigadora, quando ainda era possível a Lucy balbuciar alguma coisa, a artista contou que ao descer do ônibus perto da rua Jacuí, no bairro da Floresta, nas proximidades da rua Januária, ela resolveu passar na padaria para comprar pães e uma torta para o irmão que iria visitar em seguida.
Lucy que era baixinha e andava prudentemente devagar andou pela última vez com sua inseparável bolsa e a sacola de pães.
Segundo ela, ao entrar na rua Januária, perto de onde morava, viu um rapaz muito agitado do outro lado descendo com rapidez. De repente o homem atravessou a rua em sua direção. E um pressentimento invadiu o seio ingênuo da artista para se somar a brutalidade de um homem absolutamente covarde.
Após arrastar Lucy forçando o seu frágil corpo contra um muro de pedras, olhou ao redor e sorriu para um menino do outro lado da rua que testemunhara toda a cena. De posse dos pertences humildes da vítima, o homem que sorriu a sua brutalidade, saiu correndo deixando para trás um rastro de sangue.
Lucy chocada dizia:" Por que agiram assim comigo? Sou uma senhora de idade, indefesa. Nas sacolas só havia pães e o bolo e na minha bolsa meus exames, meus insubstituíveis óculos, documentos, a carteirinha da Unimed e cinquenta reais! Se ele tivesse me pedido, minha filha, eu teria lhe dado e não estaria passando por isso agora!"
Pausa...
Essa história vai continuar neste blog. Até que a polícia encontre o assassino de Lucy Enyd.
Juliana Sôlha com a colaboração de Luiz Seabra.
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